8/02/2020

Resenha - Ciência no Cotidiano: viva a razão abaixo a ignorância

Foi com agradável surpresa que, esta semana, recebemos em casa três livros como cortesia da Editora Contexto. Os livros não eram para mim, mas eu não pude conter minha curiosidade. Comecei lendo Ciência no Cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância, do casal Natalia Pasternak e Carlos Orsi, conhecidos céticos divulgadores de ciência. 

Capas dos livros da Coleção Cotidiano, da Editora Contexto. No site da editora, no dia de hoje, 02 de agosto de 2020, há desconto para a compra dos seis livros.

Com uma capa bastante bonita, como todas as capas da Coleção Cotidiano, o livro impresso quer inovar na diagramação - não sei se essa é uma característica da coleção ou apenas deste título. As páginas apresentam uma grande variação de recuos, as colunas de texto ora apresentam formato de ampulheta, ora de triângulo, ora a coluna está na diagonal da página. Algumas vezes, essa ousadia na diagramação fica desconfortável, causando quebras sucessivas no texto por conta da pouca largura da linha. Não existe uma justificativa explícita para essa escolha editorial que, muitas vezes, pode passar a impressão de ser apenas um recurso para aumentar o número de páginas do livro. No livro digital, a diagramação não varia.

Todas as páginas, com exceção da Introdução, têm algum tipo de diagramação como essa. Na página 92, por exemplo, o texto em forma de triângulo me causa muito desconforto.

A quarta capa apresenta ao leitor a  pretensão da publicação: mostrar que todos, mesmo sem perceber, nos beneficiamos de Ciência e dos conhecimentos produzidos por meio da Ciência e, ignorar esse fato, torna as pessoas "presas fáceis de curandeiros e charlatões, gente que mente para os outros e, não raro, para si mesma."
Para evitar, então, que as pessoas sejam "presas fáceis", a estratégia adotada pelos autores foi trazer para o livro muitos exemplos e curiosidades de como a Ciência (o cientista) interpreta observações da natureza ou de como o desenvolvimento científico e tecnológico possibilitou avanços na Medicina (capítulo sobre antibióticos e capítulo sobre vacinas), na Genética (capítulo sobre alimentação), nos Sistemas de Localização (capítulo sobre o céu), entre outros. Os exemplos escolhidos ajudam a ampliar o repertório do leitor e oferecem munição contra os discursos anti-Ciência das tias do zap ou dos tios do pavê. 
É bom ressaltar que o texto é básico, ou seja, dificilmente tornará o leitor capaz de discutir com um negacionista cheio de argumentos e, possivelmente, não ajudará as pessoas se tornarem "presas difíceis". Para isso, seriam necessárias discussões mais profundas sobre o fazer científico ou possibilitar alguma forma de letramento científico (exceção talvez possa ser aberta aos capítulos de probabilidade e estatística, que apresentam alguns recursos de forma bastante básica, mas ainda assim importantes para iniciantes e, sem dúvidas, relevantes para as discussões atuais sobre casos e mortes causadas pelo coronavírus - o leitor deve ser informado, entretanto, que o livro foi escrito antes da pandemia e, obviamente, não faz menção a ela). 
Admito que, quando eu peguei o livro para ler, esperava outra proposta, um pouco mais parecida com essa daqui, discutida pela própria autora para o canal do YouTube da Casa do Saber:



Talvez pela necessidade de simplificar a linguagem, alguns trechos podem causar a impressão de que exista um certo utilitarismo na Ciência, ou que o método aplicado em Ciências (inclusive Ciências Humanas) não possa ser aplicado em contextos diferentes dos estudos da Natureza. 
O livro começa a ficar mais interessante do ponto de vista de construção de pensamento a partir do capítulo 3. A introdução e os dois primeiros capítulos parecem um pouco sem foco, principalmente o capítulo sobre bactérias. Há alguns momentos em que o texto faz uma enorme força para não desagradar ninguém, o que pode desagradar todo mundo, como quando fala sobre cesáreas, amamentação, protetor solar, sabonetes ou mesmo quando flerta com o veganismo ou no trecho sobre agricultura (orgânica e convencional) e pesticidas.
Em alguns raros momentos, o texto simples pode dar a falsa ideia de que absolutamente nada seria possível sem a Ciência, como construir uma cadeira, fazer uma plantação agrícola ou maturar um queijo, coisas que sabemos ser bastante anteriores ao que reconhecemos hoje como Ciência ou como conhecimento científico, e muitas delas foram possíveis antes mesmo de conhecimentos matemáticos complexos. Gosto de me lembrar sempre que, muitas das primeiras explicações que os seres humanos deram sobre certos fenômenos naturais foram, tão somente, baseados em pensamento lógico e uma boa dose de empirismo.
O livro certamente ajudará o leitor a impressionar amigos ou aquela pessoa interessante no primeiro encontro. Para uma discussão mais complexa sobre Ciência, sobre a contribuição dos cientistas e para, definitivamente colocar um negacionista em situação desconfortável, será preciso um segundo encontro com os autores. Já estamos aguardando o próximo livro!

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Ciência no Cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância, de Natalia Pasternak e Carlos Orsi (2020) 160 p. foi uma cortesia da Editora Contexto para @carloshotta.  

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