10/30/2020

Resenha: Pandemias - A humanidade em risco

Mais uma vez me apropriei dos recebidinhos de Carlos Hotta e li Pandemias: A humanidade em risco, do médico infectologista Stefan Cunha Ujvari, publicado pela Editora Contexto.

Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari, pode ser adquirido no site da Editora Contexto. R$ 39,90 + frete.

Além de ser um incrível contador de histórias, Stefan consegue fazer o que poucas pessoas conseguem: ler seu contexto atual a partir de conhecimentos de muitas áreas, como História, Geografia, Ciências Sociais, Medicina e Biologia. Alguns capítulos começam com contextos históricos que pra mim eram inimagináveis. Quer ver um exemplo? Você sabia que, em 1944, os japoneses tentaram fazer ataques no território americano com bombas incendiárias que partiam do solo japonês, em balões de gás hidrogênio, se aproveitando de uma corrente de ar que sabidamente atravessa o Japão e vai em direção à costa oeste dos EUA? Eles esperavam que os balões percorressem cerca de 8.000 quilômetros em aproximadamente 3 dias e que, ao chegar nos EUA, provocassem incêndios florestais. Como sabiam dos riscos, os japoneses fizeram 9.000 ataques desse tipo. NOVE MIL. Com isso, provocaram raríssimos incêndios e a morte de seis civis, uma mulher e cinco crianças que se interessaram por um dos balões que estava preso em uma árvore.

As histórias presentes nesse livro são fantásticas. Sério. Para mim ele é uma das evidências de que os seres humanos podem ser muito mais do que eles têm sido. É o tipo de certeza que eu tenho quando vejo uma sonda sendo pousada num meteoro a mais de 300 milhões de quilômetros de distância ou quando vejo aqueles templos fabulosos no Camboja. Cada página desse livro deixa clara nossa capacidade de prever - e portanto, de evitar - epidemias. Considere que esse livro está em sua segunda reimpressão agora em 2020, mas ele foi lançado em 2011. Em 2011 já sabíamos que, em 2003, um vírus SARS provavelmente saído dos civetas vendidos nos mercados urbanos ou nos restaurantes de Guangdong, na China, teria conseguido a modificação necessária para contaminar seres humanos (qualquer semelhança não é mera coincidência). Lá em 2003 também tivemos autoridades negando os casos, também tivemos alertas da OMS (o que, neste caso de 2003, conseguiu parar o vírus antes que ele, de fato, virasse uma pandemia).

O livro também conta a história da H1N1, em 2009, as práticas de usar máscaras, lavar as mãos e passar álcool em gel já estavam todas lá. O vírus H1N1 é um influenzavirus e foi o responsável pela primeira epidemia do século. Lá em 2011, quando estava contado essa história, Stefan já diz "... e outras com certeza virão." (E cá estamos em 2020 esperando uma vacina para fazer um churrasco e abraçar loucamente os amigos.)

Sem querer contar muito, mas já contando mais um pouco, o capítulo que certamente me impressionou mais foi o dos antibióticos, das superbactérias resistentes e da corrida atrás do nosso próprio rabo que fazemos para descobrir antibióticos novos. Eu nunca tinha sequer parado para pensar que os antibióticos que temos, com exceção de um, são feitos a partir do que a natureza fez primeiro. Eles são "cópias" da natureza e não "invenções" nossas. A gente extrai e, por vezes modifica, antibióticos produzidos por fungos e mesmo outras bactérias. Só uma coisa me vem à cabeça agora: TOMEM SEUS ANTIBIÓTICOS DIREITO, RESPEITEM A PRESCRIÇÃO MÉDICA, POR FAVOR, NÃO AJUDEM A SELECIONAR BACTÉRIAS RESISTENTES. (sim, em letras maiúsculas).

Cada capítulo, ou melhor, cada história desse livro é independente e nos mostra nossa fragilidade e nossa força frente aos microrganismos. Depois dele, dá pra ficar dias, meses, anos, imaginando que nossa evolução, nossa história, não pode ser entendida sem o conhecimento da nossa interação com vírus e bactéria.

Recomendo demais, cuidado se você se impressionar muito, não é a ideia que ninguém vire a Chapeuzinho Amarelo.

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Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari (2011) 210 p. foi uma cortesia da Editora Contexto para @carloshotta.


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