"As coisas tinham para nós uma desutilidade poética.Nos fundos do quintal era muito riquíssimo nosso dessaber."
Amanhã foi assim
3/20/2021
Resenha - Ada Batista, Cientista
11/20/2020
Sigo aprendendo e com vergonha do que aprendi
Hoje é dia 20 de novembro de 2020, dia da Consciência Negra. Eu não diria que é um dia para se comemorar porque muito ainda precisa ser modificado para que tenhamos motivo para comemoração. Eu ainda preciso de mudança. A estrutura social e a estrutura das empresas e das indústrias precisam de mudança.
Do meu lugar de fala, fala branca, fala heterossexual, que descobriu o tanto de privilégios que possuia tarde na vida (e ainda estou descobrindo), de uma cidade do interior de São Paulo, sinto que ainda há muito o que aprender. Há algum tempo, uns dez anos talvez, o assunto racismo começou a fazer parte mais profundamente de minhas reflexões (sim, é um absurdo e eu lamento não poder modificar a data de início disso).
A triste verdade é que eu não sei quando foi a primeira vez que vi uma pessoa negra. Vi, mesmo, de notar a existência. Há pessoas negras no interior de São Paulo, lógico, mas elas, em geral, ocupam lugares na estrutura social que não faziam parte dos locais frequentados por mim. Na escola onde eu estudei até o que hoje é o 5o ano, não tive professores negros. Não tinha nenhuma criança negra na minha sala de aula. Nem o zelador, nem a bedel eram negros. Na igreja não tinha negros. Na minha sala do curso preparatório para a Primeira Comunhão não tinha negros. Eu não tenho memória de negros nessa fase e isso já é o suco do racismo estrutural que eu reconheço agora.
Do 6o até o 9o ano, eu estudei em uma escola pública, no centro da cidade. Veja, não era qualquer escola pública, não era a escola da periferia. Era a escola do centro. Lá, continuei sem ter professores negros. Mas, pela primeira vez, havia crianças negras na minha sala. Uma das minhas amigas nesse período era negra e foi com ela que eu aprendi qual era a melhor linha de ônibus que eu precisava pegar pra chegar na minha casa. Talvez ela seja a minha primeira memória.
Foi nesse período do Ensino Fundamental que nós estudamos História do Brasil. Lembro de flashes disso, mas, por exemplo, os indígenas brasileiros me foram apresentados como "aquele povo preguiçoso que não queria trabalhar para os portugueses". E, quase como se fossem culpados pela própria escravidão e pela escravidão das pessoas que vieram depois, foram apresentados como "aquele povo preguiçoso que não queria trabalhar e, por causa deles e da preguiça deles (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!), os negros tiveram (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) que vir para o Brasil". Os negros entraram na História já como escravizados. Eles não foram apresentados como membros de várias sociedades estruturadas. Eles já "nasceram" escravizados na História que eu aprendi. Isso é tão absurdo que dá vergonha de escrever. Dá muita vergonha de escrever.
Ninguém nunca se referiu aos negros, naquela fase, como pessoas que eram Reis, Rainhas, artesãos, comerciantes, agricultores, fazendeiros, pescadores, professores, líderes religiosos, curandeiros, contadores de histórias, construtores. Eles nunca foram retratados, para a Paula-criança de 11 anos, como pessoas, mas como produtos que eram negociados. A imagem do "Navio Negreiro" da minha cabeça de 11 anos era linda. Era limpo, espaçoso, calmo. Os negros, naquela História do Brasil, estavam vindo para o Brasil na condição de escravizados, mas isso não era um "problema" porque eles já eram escravizados láááá looooonge, na África (inclusive eram escravizados por outros negros). Então, o "problema" era da África e o problema dos negros, era, sobretudo, de outros negros.
Não há possibilidade de não crescer racista. Mas há possibilidade de deixar de ser ou de estudar para deixar de cometer os erros que foram ensinados e tatuados na mente por anos a fio.
Imagina o que era o Zumbi dos Palmares? "Óbvio" que ele era um baderneiro, um va-ga-bun-do que queria vida mansa e, por isso, fugiu. Fujão. Fugia do quê, afinal? Fugia do trabalho, diriam as pessoas que me educavam. Quando foi que eu entendi que não só Zumbi, mas todas as lideranças negras estavam lutando pela liberdade do povo negro? Como entender, depois de anos de martelação e internalização (olha, menina, vai cair na prova!), que Zumbi dos Palmares queria a liberdade para o povo negro? Como a Paula de 11 anos poderia entender que o quilombo dos Palmares era enorme, administrada como uma República Africana dentro do Brasil, que chegou a ter 20 mil habitantes, organizada em cidades? Gente... não... a construção da ideia da negritude na cabeça da Paula criança era de que negros fujões e vagabundos deveriam ser punidos (preferencialmente em pelourinhos em praça pública) e que os bons negros, os trabalhadores, esses eram obedientes e prestativos, fortes e destemidos, e poderiam encarar qualquer trabalho. Q-U-A-L-Q-U-E-R T-R-A-B-A-L-H-O como limpar, cozinhar, cuidar da segurança e matar, se preciso for, os vagabundos. E que, graças a tamanha prestatividade, foram, um dia, libertos por uma lei e ganharam cartas de alforria e, com elas, poderiam ser o que quisessem da vida. O QUE QUISESSEM (!!!!!!!!!!!!!!!)
A história é absurda, e eu lamento que eu tenha aprendido assim, e lamento que outras pessoas tenham aprendido assim. E tenho vergonha desse aprendizado, e tenho vergonha de quem não está aproveitando o momento de hoje para evoluir como ser humano e entender as implicações de tudo o que aconteceu na História. Hoje, penso no absurdo que é não saber de onde se veio. Não saber de qual nação africana seus antepassados eram. Não saber o que eles eram, como se chamavam, que língua falavam, como eram seus costumes, seus valores, suas crenças. Isso me faz sentir dor. Me faz ter vontade de chorar. E, óbvio, me faz ter vontade de aprender mais, para errar cada vez menos.
É preciso desconstruir para reconstruir. Sigo aprendendo e me desculpo se sigo errando. Ainda preciso de muita ajuda.
11/16/2020
Manual de Libras para o Ensino de Ciências
Foi com muita alegria que eu fiquei sabendo do lançamento do Manual de Libras para Ciências: A Célula e o Corpo Humano, um e-book organizado por docentes e por alunos formados do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), professores e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais e graduandos do curso de Letras-Libras da Universidade Federal do Piauí.
O manual constitui a primeira ferramenta com temática de célula e corpo humano específico para a população surda, feito com o apoio de alunos com deficiência auditiva. Nele, 300 novos sinais que ajudarão professores, intérpretes e alunos, não só da Educação Básica, mas também de Ensino Superior, de diversos cursos relacionados à área da saúde.
A ideia é simples e genial. Imagine você, aprendendo Ciências na escola. E, imagine que o(a) professor(a) vai te ensinar sobre cê-e-éle-u-éle-a. E você está super empolgado porque acha mega fascinante como as o-érre-gê-a-ene-e-éle-a-ésse se relacionam, cada qual com sua função específica, fazendo das cê-e-éle-u-éle-a-ésse as unidades básicas da vida. Aí, a primeira aula vai explicar sobre respiração e sobre o papel das eme-i-tê-ô-cê-o-ene-de-érre-i-a-esse no sistema. É tudo tão lindo e, puxa, já é difícil o suficiente entender toda a dinâmica, não precisa ser mais difícil por conta da comunicação, não é? Pois era difícil sim, até que esse manual foi elaborado e os sinais foram criados, evitando a comunicação via datilologia (quando é preciso soletrar com as mãos). Comunicação, gente... é tudo. E pode significar o sucesso ou a desistência de um aluno, mesmo super dedicado, de um curso, seja ele qual for.
Alfabeto manual ou datilologia.
A Revista Pesquisa FAPESP, publicou no dia 11 de novembro de 2020 uma excelente matéria sobre o manual de libras e como ele vai ajudar cerca de 5% da população brasileira a se comunicar e a comunicar sobre biologia celular e corpo humano. As palavras e os termos escolhidos pelos docentes, intérpretes, biólogos e estudantes do Piauí devem ajudar alunos da Educação Básica (o corpo humano, segundo a BNCC - Base Nacional Comum Curricular, é parte do currículo de alunos desde o 5. ano do Ensino Fundamental) e também alunos da Educação Superior.
Segundo a matéria da Revista FAPESP, escrita por Victor Bianchin, o manual já está ajudando outras pesquisas na área, como a desenvolvida pela Professora Dra. Nilza Nascimento Guimarães, da Universidade Federal de Goiás que já havia publicado sobre a dificuldade do ensino e aprendizagem de anatomia em cursos de graduação por alunos surdos por falta de sinais específicos para estruturas anatômicas. A matéria da Revista FAPESP vale muito a leitura e está neste link:
BIANCHIN, Victor. Manual de libras para ciências inova no ensino científico para surdos. Revista Pesquisa FAPESP. nov. 2020. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/manual-de-libras-para-ciencias-inova-no-ensino-cientifico-para-surdos/. Acesso em: 15 nov. 2020.
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Para saber mais:
ILES, Bruno; OLIVEIRA, Taine M. de; SANTOS, Rosemary M. dos e LEMOS, Jesus R. Manual de libras para ciências: a célula e o corpo humano. Teresina: EDUFPI, 2019. 80 p. Disponível em: https://www.ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EBOOK_-_MANUAL_DE_LIBRAS_PARA_CIENCIA-_A_C%C3%ABLULA_E_O_CORPO_HUMANO20200727155142.pdf. Acesso em: 15 nov. 2020.
Instituto Federal de Goiás. Ministério da Educação. Alunos de Pedagogia Bilíngue atuam na validação de sinais em projeto de códigos e terminologia médica. Acesso em: 15 nov. 2020.
Universidade Federal do Piauí. Ministério da Educação. Docentes e egressos da IFDPar juntamente com intérpretes de Libras lançam Manual para Ciências inédito no país. jul. 2020. Acesso em: 15 nov. 2020.
11/12/2020
O ensino à distância e o techwashing
São oito meses de pandemia e, portanto, são oito meses de professores inventando novas maneiras de dar aulas e oito meses de alunos tentando não enlouquecer com as aulas online e com a falta da socialização que a escola proporciona. Dependendo da idade dos alunos, pode-se somar ao exército de pessoas tentando se entender com os novos meios por onde a educação está se dando, os pais e as mães de quem são exigidas mais habilidades, entre elas, as de técnicos de informática, professores de digitação e monitores das mais variadas disciplinas.
Verdade seja dita (e nem é uma novidade muito grande, mas uma obviedade do momento), a pandemia pegou todo mundo de surpresa e é possível dizer que, tirando uma ou outra 'alma evoluída' deste mundo, ninguém estava preparado para isso, nem para as implicações e consequência disso. Na Educação, a tendência encontrada em outras áreas também se concretizou. Por mais que EADs já fossem uma realidade no mundo, principalmente no Ensino Superior e em cursos de pós-graduação, os professores da Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio) foram pegos de calças curtas e tiveram que correr para se reinventar. Abaixo, fotografias extraídas de diferentes fontes, mostram algumas das estratégias adotadas pelos professores.
Bom... olhando as imagens, "reinventar" talvez não seja a palavra ideal. Em todas elas vemos alunos e/ou professores tendo aulas não presenciais. Aulas que saíram do âmbito da sala de aula convencional e que restringiram a convivência física e passaram para um modo digitalizado.
Talvez seja preciso aqui fazer uma distinção entre o que está digitalizado e o que está digital. Me refiro a digitalizado quando penso em um sistema, processo, material ou serviço que foi pensado, estruturando e arquitetado para ser um sistema, processo, material ou serviço offline e foi adaptado para virar digital (por exemplo, um livro que foi disponibilizado em pdf ou ebook mas que foi pensado no para o meio impresso ou uma sequência de atividades que foi pensada para ser realizada no caderno mas que agora tem uma interface para o computador ou o tablet e agora possibilitam clicar ou arrastar a resposta, ou uma demonstração experimental que foi pensada para ocorrer em sala de aula e agora virou um vídeo). Me refiro a digital quando penso em um sistema, processo, material ou serviço que foi pensado, estruturado e arquitetado de forma online para ser usado de forma online enfim, que nasceu digital.
A maioria absoluta dos alunos e dos professores que eu acompanhei durante a pandemia mudaram o MEIO no qual a aula estava sendo dada, mas não mudaram, de maneira geral, a FORMA de educar. Alguns, com muito esforço, começaram a pensar em metodologias como sala de aula invertida ou educomunicação, mas foram poucos os que foram além e chegaram a uma aula com abordagem de ensino por investigação ou ensino por projetos. O fato é que é muito difícil para diversos professores abandonarem de vez a ideia de transmissores de conhecimento - embora os alunos, nessas novas estruturas, estejam conectados a maior fonte de informações e conhecimentos de que dispomos atualmente, a internet. É extremamente difícil tornar-se um professor mediador do ensino, disposto a encarar novas estratégias e aprender junto com os alunos maneiras de utilizar o conhecimento disponível no mundo. É, de fato, uma perda de segurança e uma postura um tanto defensiva (não os julgo, não foram formados para pensar e para estruturar uma aula assim).
Por sua vez, os produtores de conteúdo passam por uma fase de difícil transição e ficam entre o digitalizar materiais já existente e produzir materiais digitais inteiramente novos. É comercialmente relevante saber onde investir dinheiro, principalmente em um ano economicamente difícil como 2020, e é preciso entender a demanda das escolas e dos professores.
Essa digitalização de conteúdos e essa falta de criação de produtos pensando em uma Educação Digital verdadeira são espaços para a criação do que estou chamando aqui de 'techwashing'. Por techwashing quero dizer: estamos dando um banho tecnológico em velhos sistemas, processos, materiais e serviços educacionais, mas não estamos inovando nas formas de educar, não estamos criando uma educação digital para possibilitar um verdadeiro ensino à distância. Estamos nos apropriando de ideias tecnológicas para mudar o meio em que as aulas estão sendo dadas, na esperança de que isso crie facilidades ou novas possibilidades para professores e alunos, mas não estamos mudando a forma de interação entre professores e alunos e entre alunos e conteúdos.
O techwashing certamente vai favorecer os alunos que têm recursos à disposição para terem as velhas aulas e fazerem as velhas atividades, agora no ambiente online. Também vai trazer, fato, algumas "vantagens" como respostas e gabaritos instantâneos ou geração de relatórios de presença e atividades feitas (para pais e professores que gostam de controlar de perto o processo de aprendizagem). As verdadeiras aulas digitais, utilizando recursos pensados, estruturados e arquitetados com a finalidade de educar de forma digital, desenvolvendo pensamento computacional e científico, essas ainda não encontrei.
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Todos os endereços eletrônicos citados nesse texto foram acessados em 12 de novembro de 2020.
10/30/2020
Resenha: Pandemias - A humanidade em risco
Mais uma vez me apropriei dos recebidinhos de Carlos Hotta e li Pandemias: A humanidade em risco, do médico infectologista Stefan Cunha Ujvari, publicado pela Editora Contexto.
Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari, pode ser adquirido no site da Editora Contexto. R$ 39,90 + frete.Além de ser um incrível contador de histórias, Stefan consegue fazer o que poucas pessoas conseguem: ler seu contexto atual a partir de conhecimentos de muitas áreas, como História, Geografia, Ciências Sociais, Medicina e Biologia. Alguns capítulos começam com contextos históricos que pra mim eram inimagináveis. Quer ver um exemplo? Você sabia que, em 1944, os japoneses tentaram fazer ataques no território americano com bombas incendiárias que partiam do solo japonês, em balões de gás hidrogênio, se aproveitando de uma corrente de ar que sabidamente atravessa o Japão e vai em direção à costa oeste dos EUA? Eles esperavam que os balões percorressem cerca de 8.000 quilômetros em aproximadamente 3 dias e que, ao chegar nos EUA, provocassem incêndios florestais. Como sabiam dos riscos, os japoneses fizeram 9.000 ataques desse tipo. NOVE MIL. Com isso, provocaram raríssimos incêndios e a morte de seis civis, uma mulher e cinco crianças que se interessaram por um dos balões que estava preso em uma árvore.
As histórias presentes nesse livro são fantásticas. Sério. Para mim ele é uma das evidências de que os seres humanos podem ser muito mais do que eles têm sido. É o tipo de certeza que eu tenho quando vejo uma sonda sendo pousada num meteoro a mais de 300 milhões de quilômetros de distância ou quando vejo aqueles templos fabulosos no Camboja. Cada página desse livro deixa clara nossa capacidade de prever - e portanto, de evitar - epidemias. Considere que esse livro está em sua segunda reimpressão agora em 2020, mas ele foi lançado em 2011. Em 2011 já sabíamos que, em 2003, um vírus SARS provavelmente saído dos civetas vendidos nos mercados urbanos ou nos restaurantes de Guangdong, na China, teria conseguido a modificação necessária para contaminar seres humanos (qualquer semelhança não é mera coincidência). Lá em 2003 também tivemos autoridades negando os casos, também tivemos alertas da OMS (o que, neste caso de 2003, conseguiu parar o vírus antes que ele, de fato, virasse uma pandemia).
O livro também conta a história da H1N1, em 2009, as práticas de usar máscaras, lavar as mãos e passar álcool em gel já estavam todas lá. O vírus H1N1 é um influenzavirus e foi o responsável pela primeira epidemia do século. Lá em 2011, quando estava contado essa história, Stefan já diz "... e outras com certeza virão." (E cá estamos em 2020 esperando uma vacina para fazer um churrasco e abraçar loucamente os amigos.)
Sem querer contar muito, mas já contando mais um pouco, o capítulo que certamente me impressionou mais foi o dos antibióticos, das superbactérias resistentes e da corrida atrás do nosso próprio rabo que fazemos para descobrir antibióticos novos. Eu nunca tinha sequer parado para pensar que os antibióticos que temos, com exceção de um, são feitos a partir do que a natureza fez primeiro. Eles são "cópias" da natureza e não "invenções" nossas. A gente extrai e, por vezes modifica, antibióticos produzidos por fungos e mesmo outras bactérias. Só uma coisa me vem à cabeça agora: TOMEM SEUS ANTIBIÓTICOS DIREITO, RESPEITEM A PRESCRIÇÃO MÉDICA, POR FAVOR, NÃO AJUDEM A SELECIONAR BACTÉRIAS RESISTENTES. (sim, em letras maiúsculas).
Cada capítulo, ou melhor, cada história desse livro é independente e nos mostra nossa fragilidade e nossa força frente aos microrganismos. Depois dele, dá pra ficar dias, meses, anos, imaginando que nossa evolução, nossa história, não pode ser entendida sem o conhecimento da nossa interação com vírus e bactéria.
Recomendo demais, cuidado se você se impressionar muito, não é a ideia que ninguém vire a Chapeuzinho Amarelo.
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Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari (2011) 210 p. foi uma cortesia da Editora Contexto para @carloshotta.
Declaro para os devidos fins que...
... eu fui/sou/serei apaixonada pelo ScienceBlogsBrasil.
E dizer isso publicamente agora é muito necessário e eu só percebi na quarta-feira (dia 28 de outubro de 2020), depois de uma fala do Karl. Vocês conhecem o Karl (se não conhecem, deveriam). Ele é o autor do Ecce Medicus e responde no Twitter no @Karl_MD.
Vou voltar um pouco no tempo. Tudo começou em 2008, com um projeto que ganhou um nome gracinha e impronunciável: o Lablogatórios. O Lablogatórios foi o início de um condomínio de blogs de Ciência. Talvez você não saiba, mas em 2008 os blogs eram muito, muito acessados. Havia congressos de blogueiros onde nós discutíamos engajamento, propaganda, posts pagos, ética na propaganda e na informação, cauda longa de acesso, análise e estatística de acessos, palavras-chave, monetização, direitos autorais, entre muitas, muitas coisas. Eu tenho que admitir, sinto muita falta desses congressos. Eles reuniam pessoas com experiências tão diversas, com interesses tão díspares, com posicionamentos tão conflituosos, que tenho dúvidas se atualmente isso seria possível. Mas era. Conheci jornalistas, desenvolvedores, ilustradores, marketeiros, designers, cientistas, cartunistas, humoristas, apresentadores de televisão, maravilhosas blogueiras de cosméticos, sempre com os cabelos incríveis, a pele de pêssego e as unhas feitas. Muitas pessoas, muito diferentes de mim. Tive oportunidade de viajar com Clarinha Gomes, Cardoso, Felipe Neto, Carlos Ruas, Não Salvo para Porto de Galinhas, numa ação da prefeitura de lá... Tive oportunidade de conhecer pessoas incríveis como Isis Diniz, Reinaldo José Lopes, Lucia Malla, até o Takata eu já vi! Em 2008, reunir em um só lugar blogs que escrevessem sobre os mesmos temas trazia vantagens interessantes em números de acessos, dinheiro de propaganda, parceria com revistas, entre outros. E, por isso, e porque amamos Ciências, nasceu o Lablogatórios, encabeçado pelo Carlos Hotta e pelo Atila Iamarino.
Logo em seguida veio uma parceria do Lablogatórios com o ScienceBlogs, um condomínio de blogs de Ciência dos Estados Unidos. Fomos, eu e Carlos, até Nova Iorque fechar a parceria com a SEED, a já falecida revista de ciência que mantinha o ScienceBlogs dos EUA. Conhecemos os blogueiros de lá, até Rebecca Skloot, que estava prestes a publicar The Immortal Life of Henrietta Lacks. Conversamos sobre nossos interesses comuns, nossas expectativas. O Lablogatórios se transformou no ScienceBlogsBrasil, que esteve na URL scienceblogs.com.br até outro dia mesmo, até o começo de 2020, pré-pandemia.
Nós fizemos muita coisa como ScienceBlogs. Fomos fonte de estudo que acabaram em dissertações de mestrado e teses de doutorado. Fomos inspiração para outros condomínios. Fomos diversos, ora concordando, ora discordando. O ScienceBlogs conseguiu agrupar pessoas incríveis, com interesse pela ciência, mas de origens das mais diversas. Entre os profissionais há bacharéis em Ciências Biológicas, bacharéis em Geologia, paleontólogos, médicos, químicos, engenheiros, físicos, um oficial da Marinha (saudades João Carlos!), jornalistas, psicólogos, e eu certamente esqueci alguma formação. Nós éramos alunos, cientistas, profissionais liberais, aposentados, professores, professores universitários, editores, e eu certamente esqueci alguma profissão. Temos autores de livros, vencedores de prêmios, inclusive um prêmio Jabuti, um finalista do prêmio Jabuti um IgNobel e uma Medalha Anchieta! Nunca fomos uma coisa só e por isso éramos tanto.
E aí... voltamos para quarta-feira (28). Quarta-feira tivemos nossa reunião de boas-vindas após a migração do ScienceBlogsBrasil para o Blogs Unicamp. Depois de tantos anos, os blogs mudaram, as formas de fazer divulgação científica (e também os meios) mudaram, nós mudamos e precisávamos de um ar fresco. E o Blogs Unicamp veio e nos abraçou, nos deu uma nova casa e uma nova URL. Os blogs do ScienceBlogsBrasil agora podem ser encontrados em https://www.blogs.unicamp.br/sbbr/. E nessa reunião, Karl fez uma fala que me deixou muito emocionada e me fez fazer essa viagem ao longo dos anos, que resumi em poucos parágrafos aqui e que me motivou a deixar esse agradecimento:
A pessoa que eu sou hoje, a profissional que eu me tornei, várias coisas que eu aprendi estão intimamente relacionadas com essa rede de pessoas diversas e incríveis do ScienceBlogsBrasil, pelas quais eu guardo um imenso carinho. E por isso eu tenho que agradecer a todos vocês por essa caminhada até aqui. Obrigada.
Obrigada, Blogs Unicamp, pela oportunidade nossos blogs estarem nessa nova casa. Desejo que nossa diversidade se multiplique!
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Os blogs do ScienceBlogsBrasil, em ordem alfanumérica: